Evolucionismo e Fixismo
A perspetiva evolutiva que foi sendo descrita desde os seres procariontes até aos organismos multicelulares mantém-se como ideia central na explicação da diversidade de vida e marca a forma como os biólogos observam e explicam o mundo atual.
mas nem sempre esta divisão prevaleceu como ideia dominante na comunidade cientifica. Na verdade, quando observamos as várias gerações de indivíduos e dado que o tempo médio da vida humana é insignificante quando comparado com o tempo geológico, parece-nos evidente que as várias gerações de cães sempre originaram cães e que do acasalamento entre lobos sempre surgiram lobos.
Durante séculos, admitiu-se que as espécies surgiram tal como hoje as conhecemos e se mantiveram imutáveis ao longo do tempo. Esta visão das espécies, conhecida por fixismo, prevaleceu e, em alguns casos, ainda prevalece fortemente apoiada por princípios religiosos.
Apesar da força das ideias fixistas, no século XIX vai transitar-se, num ambiente de grande controvérsia, para uma visão evolucionista, isto é, vai admitir-se que as espécies se alteram de forma lenta e progressiva ao longo do tempo, originado outras espécies.
A ideia de que as espécies teriam evoluído a partir de outras espécies preexistentes começou a surgir no contexto cientifico. Um dados contributos mais importantes para as ideias evolucionistas veio da geologia.
Mecanismos da evolução
Lamarckismo
Lamarck, um intelectual pouco valorizado no seu tempo, foi professor no museu de História Natural, em Paris, e não só defendeu ideias evolucionistas como apresentou uma explicação coerente acerca da origem das espécies. As ideias de Lamarck, para explicar a existência da evolução, podem resumir-se em dois princípios fundamentais:
-lei do uso e do desuso
-lei da herança dos caracteres adquiridos.
Os seres vivos apresentam modificações que dependem do ambiente em que esses seres se desenvolvem. O ambiente condiciona a evolução, levando ao aparecimento de características que permitem aos indivíduos adaptar-se ás condições em que vivem.
A adaptação, segundo Lamarck, representa, pois, a faculdade que os seres vivos possuiriam de desenvolver características estruturais ou funcionais que lhes permitissem sobreviver e reproduzir-se num determinado ambiente. As modificações que levam á adaptação são explicadas pela lei do uso e do desuso. De acordo com esta lei, a necessidade de um órgão em determinado ambiente cria esse órgão e a função modifica-o, isto é, a função faz o órgão. Se um órgão é muito utilizado, desenvolve-se, tornando-se mais forte, vigoroso ou de maior tamanho. Se, pelo contrário, esse órgão não se usa, degenera e atrofia.
Segundo a lei da herança dos caracteres adquiridos, as modificações que se produzem nos indivíduos ao longo da sua vida, como consequência do uso ou do desuso dos órgãos, são hereditárias, originando mudanças morfológicas no conjunto da população.
De acordo com a herança dos caracteres adquiridos, os organismos, pela necessidade de se adaptarem ao ambiente, adquirem modificações durante a sua vida que passam aos descendentes. A adaptação é progressiva e um organismo pode desenvolver qualquer adaptação, desde que seja necessária, caminhando assim as espécies para a perfeição em interação com os fatores ambientais.
O modelo explicativo de Lamarck foi muito contestado, porque fornece um explicação sobre a evolução que tem um caracter animista, isto é, existe uma intenção e uma finalidade na evolução, de tal forma que as alterações surgem como resultado de as espécies procurarem o "melhor". Por outro lado, a herança dos caracteres adquiridos não se verifica. Hoje admitimos, por exemplo, que nos organismos com reprodução sexuada apenas as alterações do DNA transportadas nos gâmetas são transmitidas aos descendentes.
A fragilidade dos argumentos utilizados por Lamarck e a força do fixismo mantiveram as ideias evolucionistas afastadas durante vários anos.